JOÃO MOURA CAETANO - A CRÓNICA DO INICIO DA TEMPORADA 2015


A NOSSA CRÓNICA...
ESTE ANO TEMOS ANO!
O tempo passa! Frase feita…consciência certa. O tempo passou e estamos de novo aqui. Uns juntos, outros mais longe, uns quantos perto, o núcleo unido. A temporada começa e sente-se o nervosismo, sente-se alguma expectativa e tenta lidar-se com o medo, com tudo aquilo que é pratico e com a alma dos artistas que nunca são práticas. Que complicam, que receiam e que de forma desinteressada não conseguimos perceber o interesse grande que tudo aquilo tem.
Este é o terceiro ano de crónicas, já escrevi muitas, já leram outras tantas. Por aqui pouco muda, por aqui vimos a festa dos toiros de uma forma mais sentida, menos preocupada com aquilo que passa para o lado de lá e mais preocupados com tudo o que acontece de verdade do lado de cá.
Escrever sobre uma nova temporada, pelas minhas palavras só faz sentido se escrever sobre o João. Não sou crítica taurina, não gosto muito da nova vaga de “social” que as corridas carregam, não sou uma aficionada imparcial. Gosto do João, escrevo sobre ele e acho que ao longo destes anos consegui levar através das palavras algumas impressões sobre o outro lado do artista, sobre a importância do público, sobre o medo da pressão e sobretudo sobre a fragilidade humana perante o olhar dos outros que cada vez se importam apenas com o alarido da festa sem perceber o conteúdo.
Talvez escreva de forma mais poética aquilo que na verdade é tão complexo. A temporada começou e tínhamos todas saudades. O ano passado foi estranho. Foi cinzento, não houve grande história, ninguém quis escreve-la e às vezes sabe bem abrandar, parar um bocadinho e deixar que o tempo passe.
Este ano estamos em força. Com esperança nos dias que chegam. Com ânimo. Com garra e com vontade. E voltam os cartazes que anunciam João Moura Caetano, e voltam as críticas dos críticos, as imagens, os aplausos. Temos cavaleiro artista, temos ferros de antologia e serenidade na arena apesar dos nervos roerem todos os pingos de suor até se entrar na arena.
Começámos a temporada em Calamonte, com um triunfo, depois Monforte, que nos levou a recordar as temporadas de 2011, 2012 e 2013, um público que acolheu os artistas da terra reconhecendo-lhe o imenso valor. Ainda em Espanha mais uma tarde de toureio português no seu melhor, na sua verdade. Foi assim em Calzadilla de Los Barros.
Três corridas, duas em Espanha e uma no lugar onde se nasce e onde um triunfo sabe a muito porque carrega consigo uma enorme saudade de todos os que fizeram a história da vida que já passou e marca a solidez daqueles que dia a dia continuam a promover e a apoiar esta vida cheia de tudo.
Este ano temos um Temperamento mais apurado, um Fogo que incendia qualquer praça, mais o Belmonte, mais o Aramis, mais o Zeus e mais o Xispa. Confesso que quêm tem lido as minhas crónicas ao longo destes anos sabe que tenho um especial carinho ou sensibilidade para com o cavalo Xispa. Acho-o gigante! Na forma como enaltece uma lide, na forma como se apresenta na arena, na forma como dança numa faena.
Agora seguem-se as datas, as expectativas, as praças, o público, o calor da Primavera que parece Verão e às vezes o frio de Verão nas noites mais frias que parece Outono. Segue-se tudo. Uma temporada cheia de emoções, de ferros com verdade, de gente que encha praças, do som da música, do burburinho das bancadas e tudo mais que torna a nossa festa um enorme acontecimento carregado de tradições e de lembranças de todos os tempos.
Estamos todos de volta e queremos muito ver o João nas arenas, queremos muito vê-lo triunfar, ter inspiração grande para tornar as lides maiores e para fazer com que cada um de nós se torne mais aficionado. E melhor aficionado. Isto da festa dos toiros é muito mais do que aquilo que nos parece.
Estamos todos de volta e é sempre bom voltar a escrever. O Inverno já lá vai e guardámos nele toda a inspiração que nos matou as saudades nos meses que passaram. Este ano temos ano! Temos tudo o que esta tradição nos oferece, muitas emoções, nervos, tardes menos boas, serões mais ou menos felizes, lides completas, faenas com pouca história. Havemos de ter tudo isto porque a festa também é isto. É a linha ténue entre a sorte e a infelicidade e entre o coração cheio e o mais vazio.
É assim como na vida. Só que aqui a inspiração fala sempre mais alto e a arte nem sempre é coisa para se compreender.
Às vezes e quase sempre é apenas e tanto só coisa para se sentir!
Bem-vindos à nova temporada 2015!
Leonor Barradas