VASCO PINTO EM DISCURSO DIRECTO

Num ano de grandes desafios e combates para o cabo do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete, estivemos à conversa com Vasco Pinto, membro de uma das mais importantes dinastias de forcados e das que mais deram à Festa











PS – Tendo em conta a forte tradição, na forcadagem, do nome Pinto, alguma vez lhe passou pela cabeça não ser forcado? 

VP - Vou confessar que ser forcado sempre esteve presente na minha educação e também na minha cabeça, mas mentiria se não confessasse que, em determinada altura da minha adolescência, pensei que talvez esse não fosse o meu caminho. Sempre pratiquei imenso desporto, e cheguei a jogar futebol no Desportivo Alcochetense, com 16 anos, e o presidente, à data, António Manuel Cardoso (Néné), deu-me a escolher: ser jogador de futebol ou forcado, coisas que eram incompatíveis, e aí escolhi os touros, pois senti que o “bicho” estava dentro de mim, e se tinha apoderado da minha vida, das minhas intenções e daquilo que eu queria fazer! 


PS- Ainda se lembra do 1º touro que pegou?
VP – Lembro-me muito bem, tenho presente essa data, todos os dias, até porque foi uma decisão tomada à revelia dos meus Pais; Foi numa corrida de touros em Abíul, em 1998,nesse ano o GFAA tinha uma digressão prevista às Sanjoaninas, na Ilha Terceira, e eu, que já treinava com o grupo, e sabia das intenções do Cabo, João Pedro Bolota, de me levar aos Açores, achei que tinha de dar provas, antes da digressão, que merecia ir com o grupo.
Fui então a essa corrida em Abíul, aproveitando que os meus Pais não estavam em Alcochete, agarrei na mala, fui ao sotão da casa dos meus Avós, procurar fardas antigas que lá tinha, dos meus tios e do meu Pai, fiz a minha farda e fui para a corrida. Fui com o meu tio Francisco (Chalana Marques), e o João Pedro fardou-me. Pegávamos 6 touros Rio Frio, e eu consumei a pega à 3ª tentativa, e fiz uma lesão no perónio, que consegui esconder durante 2 semanas. 
PS – O que é que se sente, quando se está frente a frente a um touro, para o pegar? O que é que passa pela cabeça de um forcado, numa altura destas? 
VP – Lembro-me muito bem, tenho presente essa data, todos os dias, até porque foi uma decisão tomada à revelia dos meus Pais; Foi numa corrida de touros em Abíul, em 1998,nesse ano o GFAA tinha uma digressão prevista às Sanjoaninas, na Ilha Terceira, e eu, que já treinava com o grupo, e sabia das intenções do Cabo, João Pedro Bolota, de me levar aos Açores, achei que tinha de dar provas, antes da digressão, que merecia ir com o grupo.
Fui então a essa corrida em Abíul, aproveitando que os meus Pais não estavam em Alcochete, agarrei na mala, fui ao sotão da casa dos meus Avós, procurar fardas antigas que lá tinha, dos meus tios e do meu Pai, fiz a minha farda e fui para a corrida. Fui com o meu tio Francisco (Chalana Marques), e o João Pedro fardou-me. Pegávamos 6 touros Rio Frio, e eu consumei a pega à 3ª tentativa, e fiz uma lesão no perónio, que consegui esconder durante 2 semanas.
PS – O que é que se sente, quando se está frente a frente a um touro, para o pegar? O que é que passa pela cabeça de um forcado, numa altura destas?
VP – Depende... Depende se vamos pegar um touro à primeira, à segunda ou à terceira tentativa, isto porque o discernimento não é o mesmo, vai diminuindo. À primeira, tentamos perceber os instintos do touro, e qual o momento certo para fazer a batida, para que as coisas corram da melhor forma. Já numa fase avançada de tentativas, às vezes há já muita descrença na nossa capacidade, ou que o touro vai enganar novamente, que nos vai fazer mal...e outras, pensa-se que, nem que seja a última coisa a fazer-se, aquele touro tem que ser pegado! Isso depende muito do momento de forma de cada forcado e da moral que se tem em determinado momento.
PS – Como é que analisa os touros, assim que saem em praça? Como gosta de os ver?
VP – Eu presto muita atenção ao touro no capote. Há pessoas que entendem que se deve prestar muita atenção no momento do ferro, outros na forma como investe no cavalo, como persegue o cavalo. São tudo indícios que nos permitem perceber se é um touro que arranca de lado, se é tardio na saída, se é um touro franco, se é um touro que espera, se arranca pela direita ou pela esquerda, mas eu acho que para um forcado é muito importante perceber a forma como o touro está a investir no capote, e podemos tirar as ilações se o touro vai pôr a cara alta, o que se espera no momento da investida, e isso são condicionantes importantíssimas.
PS - Quais são as características que, para si, deve ter um bom cabo?
VP – Como eu costumo dizer, um bom líder não é o que dá muitas ordens, mas sim aquele que é seguido. Mas, um bom cabo tem que ser, essencialmente, uma pessoa que consiga relacionar-se bem com todos os elementos do grupo, e que seja capaz de perceber a personalidade, as fragilidades e a maneira de estar de cada elemento, e que saiba como pode tirar partido dessas características para que o grupo funcione como um todo, forte, e coeso. Há, ainda, um conjunto de factores que ditam o sucesso ou insucesso do cabo, e que estão relacionados com a capacidade de se fazer respeitar, de servir como exemplo para todos os colegas, passando para os aficionados, para os colegas de outros grupos, e para os empresários a imagem de um grupo unido e responsável.
PS - É-lhe cómoda a posição de cabo?
VP – Actualmente é, mas nem sempre assim foi. 
PS – Foi difícil? Foi uma aprendizagem gradual?
VP – Sim, claro. Foi um percurso de aprendizagem grande, no qual, felizmente, sempre consegui reunir à minha volta as pessoas certas, que me ajudaram, que me permitiram crescer como homem, com bases fortes e sólidas. Este processo, não posso negar, já decorria mesmo antes de ser cabo, pois fui sendo preparado, sem que tivesse essa noção, para que um dia mais tarde viesse a ser cabo do grupo e, acho que isso me permitiu aprender mais rápido e a assimilar todas as necessidades que são úteis para se ser um bom cabo.

PS – Quais foram, para si, além do seu Pai, as grandes referências, no mundo da forcadagem?
VP – É difícil responder a essa questão, porque tenho um conjunto de pessoas que sempre admirei, e de vários grupos. Mas, e apesar de não ter tido com eles grande convívio, no auge da sua carreira, as minhas grandes referências foram o meu Pai, sem margem para dúvidas, o meu primo Nini e o Helder Antoño. Mas, para além destas, pessoas como o João Pedro Bolota, o Estevão Oleiro, o Sidónio Rosa, foram também referências, e junto dos quais tive o prazer e o privilégio de me fardar.
PS – Pensa que a visibilidade da sua candidatura à C. M. Alcochete, pode ajudar a Festa, de alguma maneira? Tem, no seu programa de acção, ideias para dinamizar a actividade taurina, apesar de Alcochete ter já declarado a Tauromaquia Património cultural?
VP –A minha candidatura ao Município de Alcochete propõe-se, antes de mais, melhorar a vida das gentes de Alcochete, construindo um projecto novo, com pessoas apolíticas e totalmente independentes. É claro que, se esta candidatura implicar mais valias para a tauromaquia, e para o meu grupo, tanto melhor. Quanto às linhas de acção em concreto, não nos podemos esquecer que uma das maiores riquezas do concelho de Alcochete, é a sua identidade cultural, ligada aos touros, ao cavalo, aos forcados, às bandas filarmónicas, e, obviamente que tal deve ser preservado e deve ser incutido o gosto pela tauromaquia nas escolas, encontrando um consenso que possibilite aos jovens um maior contacto com a natureza e com o campo, com a equitação e com o hipismo, e também conhecer a realidade dos grupos de forcados, tendo, inclusivamente o GFAA participado em algumas acções de formação, dentro da rede escolar do concelho, para que as crianças percebam o que é um grupo de forcados e como funciona.
PS – Pensa que a classe política, em geral, descrimina a Festa de touros, em Portugal?
VP – Sem dúvida. Salvo raras excepções, a classe política não defende, como deveria fazer, uma das mais ricas expressões de arte, tão importante para a cultura e economia do nosso país, e que nos distingue em todo o mundo!
PS – Tendo Alcochete uma tendência marcadamente de esquerda, como se sente ao apresentar-se a sufrágio, com 31 anos, sendo um filho da terra, e na lista do CDS-PP, apesar de independente?
PS – Sinto-me muito motivado e capaz de trazer para Alcochete novos projectos e novas formas de aproveitar os excelentes recursos de que dispomos, tais como a nossa riqueza cultural, a proximidade com a cidade de Lisboa, o rio Tejo, as actividades ligadas ao mar e à náutica, e a consequente dinamização do comércio local e do turismo.
PS – Resumindo, sente-se preparado para remar contra a maré?
VP – Sem dúvida! Se não me sentisse, nunca teria dado este passo. Sou um homem de convicções e quando me dedico ao que quer que seja, faço-o com total entrega e sempre com a expectativa de que estou a fazer o melhor que sei e sou capaz
PS -  Quem acha que é melhor forcado, voçê ou o seu Pai?
VP – O meu Pai, indiscutivelmente! Não há margem para dúvidas! Quando comecei a dar os primeiros passos como forcado, sabia, de antemão, que seria quase impossível ser melhor que o meu Pai, mas o meu objectivo foi sempre honrar o seu nome, assim como o de todos os familiares que foram forcados, e a jaqueta do meu grupo. Nunca estabeleci como objectivo ser melhor do que ninguém, sempre quis ser igual a mim próprio e fazer o meu caminho, mas é um grande privilégio ser filho de quem sou. 
PPF